SE/MASF e a DSPC/DRAC: A FLOR E A CIDADE (II)

No post anterior expusemos a linhas orientadoras da parceria entre o Serviço Educativo(SE) do Museu de Arte Sacra do Funchal (MASF) e a Direcção de Património Cultural (DSPC) pertencente à Direcção Regional dos Assuntos Culturais, com uma turma de 7ª ano da Escola dos Louros, no Funchal.

Como se pôde ver, depois de uma primeira parte de formação aos professores e alunos sobre os temas do projecto , os alunos prosseguiram, sob a orientação da DSPC e das professoras da turma, aos trabalhos de pesquisa bibliográfica, para um aprofundamento dos vários aspectos subjacentes ao roteiro temático escolhido  - a evolução técnica e estético-formal do azulejo ao longo da história foi, por exemplo, um dos aspectos abordados pelos vários grupos de trabalho.


 II PARTE

A segunda parte do projecto, que passaremos a explicar passo a passo,  iniciou-se com o contacto directo com o património, sendo por isso uma forma de fomentar a fruição das obras nos seus contextos próprios ou aproximados.
A visita de estudo processou-se em dois locais distintos: a Igreja de São João Evangelista no Funchal e o Museu de Arte Sacra do Funchal. Na igreja de São João Evangelista a visita foi orientada pelas educadoras Joana Martins e Valéria Salgueiro da DSPC. No MASF coube ao coordenador do SE, Martinho Mendes, a orientação da visita.
Foi ainda nesta parte, como veremos mais adiante, que se deu início à criação plástica,  através de exercícios práticos que estabeleceram uma relação directa entre os alunos, as obras e o espaço do museu.

 1 - Igreja do Colégio

As professoras da turma colocaram como um dos conteúdos a explorar em toda a unidade didáctica, a "História do Azulejo em Portugal entre os séculos XV e XX" o que inclui, inevitavelmente, um contacto e aproximação ao contexto regional da Ilha da Madeira, relativamente à abordagem deste tema.
Uma vez que os períodos históricos abarcados foram extensos, é natural que não tivesse sido possível observar exemplos de todas as épocas. Nesta perspectiva, os alunos, nos locais onde visitaram, puderam apenas contactar com azulejos entre os séculos  XVI a XVIII.  A chamada de atenção para os azulejos do século XV, XIX e XX dá-se através de outras estratégias que teremos oportunidade de descrever mais adiante.

Figura 1 - O grupo de alunos à entrada da Igreja de São João Evangelista.

Ao longo desta visita na igreja, foi possível que os alunos seguissem uma perspectiva histórica da evolução técnica e formal do azulejo, graças à riqueza decorativa do interior da igreja, que apresenta também obras de pintura, escultura e artes decorativas. Os alunos foram alertados para a forma como são representados os elementos vegetalistas e florais nas várias técnicas de produção artística ao longo da história. Estas noções foram posteriormente aprofundadas com a visita que se seguiu no MASF.


Figura 2 - A educadora Joana Martins no interior da Sacristia da Igreja do Colégio dos Jesuítas.

  2 - Museu de Arte Sacra do Funchal

2.1 - Hall de entrada do Museu

Quando o grupo chegou ao Museu de Arte Sacra do Funchal o educador sabia o que tinha sido explorado no interior da Igreja do Colégio dos Jesuítas por parte das colegas do DSPC.
Partindo desse pressuposto e do que os alunos daquela turma de 7ª ano já abordaram em outras disciplinas, as actividades programadas no MASF visaram o aprofundamento de conhecimentos anteriores bem como o envolvimento activo dos alunos com a colecção de arte do museu.
As actividades, de carácter teórico e prático, assentaram num diálogo que partiu do lançamento de questões às quais os alunos foram respondendo no percurso, previamente estruturado dentro do museu.


Figura 3 - Recepção do grupo no Hall de entrada do Museu de Arte Sacra do Funchal.

Os alunos foram recebidos pelo educador Martinho Mendes no Hall de entrada do Museu.
Como forma de suscitar a curiosidade e a estranheza entre os alunos, o educador trouxe consigo uma folha verde na mão, elemento que foi fundamental para todo o desenrolar da actividade, servindo ainda de pretexto para a ligação do roteiro da flor com o património e as colecções de Arte do MASF.

No hall lançou-se um conjunto de questões que, a partir da estratégia da folha que foi apresentada, trouxeram para o debate a rememoração dos conhecimentos que os alunos adquiriram anteriormente em vários contextos. Esta dinâmica inicial preparou ainda o terreno para a visita e actividades que decorreram nos andares superiores do museu.

Enquanto se exibia a folha, colocando em evidência a sua morfologia e o seu comportamento em termos de flexibilidade, lançaram-se as seguintes questões: (1) Se alguém conhecia aquela folha que era ali apresentada?; (2) Existia ali alguêm que ja a tivesse visto em algum sítio ou soubesse como é que se chamava?; (3) Que relação tinha a forma daquela folha com o que tinham visto já na Igreja ou estava presente no hall de entrada do museu?;


Figura 4 - Folhas de acanto no jardim das plantas aromáticas e medicinais na rua da Mouraria, Funchal.

Alguns alunos responderam que já a tinham visto em bermas de estrada e em alguns terrenos baldios.
Nenhum dos alunos sabia o nome da planta. No entanto, houve um deles que referiu a sua utilização na medicina popular, trazendo assim para o debate um conhecimento de natureza etnobotânico.

A partir este momento o educador utilizou as respostas dos alunos para introduzir outras questões a partir daquelas que foram lançadas inicialmente: (5) Quantos nomes poderia ter uma planta?
Os alunos responderam - numa clara alusão aos conhecimentos adquiridos na disciplina das ciências naturais - que estas têm, normalmente, um nome comum e um nome científico.
Assim sendo, o educador referiu que aquela planta se chamava vulgarmente de "acanto"e que entre os madeirenses são comummente conhecidas como "Erva gigante".
Foi referido ainda que o nome científico daquela planta é Acanthus mollis e que sendo uma planta da zona do mediterrâneo é muito comum e abundante em toda essa zona geográfica.
Esta planta é vista em terrenos baldios, crescendo de forma selvagem, como também é cultivada para fins ornamentais em jardins. Por esta razão é que muitos dos alunos (aqueles que porventura são mais atentos à envolvente natural) a terão já observado no seu quotidiano.
Relativamente ao aluno que referiu a utilização medicinal da planta por parte da sua avó, é explicado a todo o grupo que aquilo que o colega disse advém do facto do acanto possuir propriedades anti inflamatórias e ser utilizado em cata-plasmas na medicina tradicional.

No exacto momento em que é referido o nome da planta alguns alunos interromperam o diálogo, como que alcançando um insight, e referiram que no interior da igreja que visitaram, observaram a representação daquelas folhas em algumas obras, nomeadamente na azulejaria.
Na verdade, as educadoras referiram a expressão "folhas de acanto" enquanto falavam dos elementos florais e vegetalistas que aparecem nas composições das obras dentro da igreja e identificaram essas mesmas formas nas obras que os alunos estavam a observar.

No entanto, a maioria dos alunos fica com uma ideia abstracta do que é a folha de acanto porque nem sempre se proporcionam momentos de confronto entre a representação visual ou escultórica dessas formas com o elemento real e natural.

Porque se sabe que faz parte do programa de história falar-se da antiguidade clássica, perguntou-se directamente aos alunos em que ordem da arquitectura da Grécia Antiga aparecia a representação daquelas folhas.
Esta pergunta foi lançada com o objectivo dos alunos perceberem que afinal já tinham ouvido falar da folha de acanto no contexto formal da sala de aula.
Procurou-se consolidar aquele conhecimento, acrescentando mais um dado teórico que os ajudasse à compreensão da origem daquela representação na arquitectura e, a partir daí, em toda a arte ocidental até, sensivelmente, à primeira metade do século XIX.
Revelando incerteza na resposta, os alunos lançam, aleatoriamente, os termos "dórico", "jónico" e "coríntio".  Explicou-se que é na ordem "coríntia" que, de forma mais composta e decorativa, começam a aparecer as primeiras representações desta folha. Complementou-se esta informação contando a lenda do arquitecto Calímaco que, ao passar num cemitério grego vê um cesto abandonado, tapado com uma tábua que, por sua vez, ao deixar umas aberturas no cesto, permite que umas folhas de acanto cresçam, orientadas para o seu interior. Foi a sensibilidade do arquitecto, a observação atenta do comportamento ondulante e dinâmico de uma folha real e a sua posterior simplificação formal, que explica como esta surgiu esculpida nas primeiras formas arquitectónicas da antiguidade clássica.


Figura 5 - A ficha técnica da planta do acanto no já referido jardim.


Figura 6 - Vista frontal de um pequeno molde de gesso decorativo que representa a folha de acanto, simplificada e simétrica.


Figura 7 - O educador e os alunos à volta de uma peça de mobiliário, em talha dourada, do século XVII.

O educador levou o grupo para junto de um toucheiro de talha dourada (Figura 7) e pediu aos alunos que identificassem, entre os vários elementos representados (várias flores, cartelas, volutas e anjos) a representação das folhas de acanto. O alunos identificam de imediato e com grande facilidade (Figura 8).

Fez-se um ponto da situação, referindo que a folha, sendo por natureza simétrica e bastante flexível, é utilizada como elemento decorativo que se adapta facilmente a diversas superfícies côncavas e convexas, além de contribuir para a sugestão de movimento, uma vez que pode surgir modelada, desenhada, pintada ou gravada, de acordo com linhas ondulantes e curvas.
Antes de se passar para o primeiro andar, foi ainda possível observar alguns destes princípios de organização formal no hall do edifício onde os alunos se encontravam, nomeadamente na simetria da escadaria barroca e no empedrado do desenho do pavimento.

Figura 8 - O educador e os alunos à volta de uma peça de mobiliário, escultórica, do século XVII.

2.2 - 1º Andar (Salas 2 e 3)

2.2.1 - A sala 2


Figura 9 - O educador e o grupo na sala 2 do primeiro andar.


Figura 10 - Escola portuguesa (Século XVIII). São Domingos. Escultura em madeira estofada, policromada e dourada. 1.04x45x35cm.

Depois do diálogo introdutório realizado com os alunos na entrada do museu, o grupo subiu até ao primeiro andar onde estão reunidas várias colecções de objectos (ourivesaria, escultura, paramentos, pintura) de produção portuguesa.
No seguimento da exploração de algumas das peças do museu através do tema da representação da flor na arte, referiu-se que a folha de acanto que observaram, pode ser representada de forma mais simplificada na talha dourada, mas existem outras formas de representar as plantas, de forma ainda mais esquemática ou, contrariamente, mais realista e verosímil com a realidade.
Ao mesmo tempo que se vai introduzindo outras informações e conceitos ligadas à História da Arte - por exemplo, dizer que a peça é "maneirista" e referir três aspectos da arte dessa época - os alunos são levados a observar diversas representações florais e vegetais, mais ou menos simplificadas, em diversos objectos.

Diante a escultura de São Domingos (Figura 10) os alunos puderam observar, em pormenor, os variados elementos decorativos existentes nos padrões pintados sobre a escultura.
Foi pedido ao grupo que indicasse onde é que se encontravam  os elementos da linguagem visual e plástica, conteúdos estes explorados na disciplina de Educação Visual do 7º ano.
Neste seguimento, os alunos referiram a existência de pontos, linhas, manchas e texturas, visuais e tácteis, ao longo de toda a escultura (figuras 11, 12 e 13).

Figura 11 - Pormenor do sapato de São Domingos, preenchido com uma textura visual pontilhada.

Figura 12 - Pormenor das vestes de São Domingos, onde se pode observar motivos vegetalistas simplificados.
Figura 13 - Pormenor da parte superior das vestes de São Domingos.

Depois dos alunos terem verificado que, de facto, a flor poderia aparecer pintada numa escultura de madeira, mediante processos de representação, dos mais simplificados aos mais naturalistas, pediu-se aos alunos que observassem a sombra projectada da escultura sobre a parede (Figura 14).
Este momento foi particularmente importante pois preparou a continuação da visita na sala que se seguiu.

Figura 14 - Sombra projectada da escultura de São Domingos.

O educador perguntou aos alunos se aquela sombra não corresponderia a uma representação realista daquele santo? A pergunta não foi, como já se esperava, suficientemente clara aos alunos, mas foi lançada com o objectivo de alargar a compreensão deles a propósito de outras estratégias de representação das formas existentes na realidade.
Explicou-se que se colocássemos uma folha de papel atrás da escultura e com um lápis, desenhássemos a linha de contorno da silhueta, o desenho final obtido corresponderia a um registo fiel daquela realidade, ainda que se tivessem perdido todos os pormenores e detalhes da escultura neste desenho de síntese.

Uma vez que a iluminação das peças no contexto do museu é artificial, perguntámos aos alunos se alguma vez  observaram  a variedade de sombras projectas dos vasos de flores, nas suas casas, num dia de sol. De seguida, perguntou-se aos alunos se conheciam o trabalho de algum artista português que, ainda nos dias de hoje, no seu trabalho, apresentasse o desenho de sombras de objectos ou pessoas.

Os alunos responderam que já tiveram oportunidade de parar para observar as sombras. No entanto, nenhum deles conhecia a obra de Lurdes de Castro aquela que, na verdade se estava a inquirir.
Enquanto se pede para os alunos observarem outras sombras projectadas de outras peças (Figura 15), avançámos para a sala 3.

Figura 15 - Sombra projectada de uma peça de ourivesaria - Coroa do Espírito Santo.


2.2.2 - Sala 3 (A sala do Camarim da Sé)

Figura 16 - A sala 3 com a instalação das 15 jarras sobre folhas de papel de desenho de formato A3.


Figura 17 - O grupo sentado no chão da sala 3 ouvindo, do educador, as orientações para o exercício de desenho.

O grupo foi encaminhado para a sala 3,  conhecida como " Sala do Camarim da Sé" por reunir um conjunto de obras de talha dourada do século XVII, atribuídas ao escultor Manuel Pereira e provenientes da Catedral do Funchal. Aqui pode-se encontrar baixos relevos em talha dourada que narram episódios do antigo testamento, algumas alegorias e um conjunto escultórico que representa a última ceia.

Quando os alunos chegam à sala, encontram o chão povoado de jarras com plantas: folhas de acanto, íris e lírios, tendo por debaixo de cada uma delas, uma folha de tamanho A3 e um lápis de cor.
Sendo uma quase instalação artística, porque vive essencialmente do diálogo com o espaço e obras circundantes, esta actividade visou a introdução de uma nova componente à visita de estudo: a da produção que se junta, assim, à da já iniciada fruição das obras in loco. 

O diálogo introdutório previu a exploração das seguintes questões: observando atentamente as obras que estão na sala, que relação têm estas com os elementos naturais que estão dispostos no chão? Qual das três plantas aparece representada nas obras? Como são as sombras destes elementos naturais com a luz artificial do museu, terão sombras como os objectos que se observou na sala anterior?

Seguidamente às respostas dos alunos  que indicaram a folha de acanto como a única que é nitidamente representada nas obras, foi explicado o que deveria ser feito nos exercícios práticos: ao redor de cada jarra sentavam-se dois alunos. Depois de procurar e escolher o melhor enquadramento da sombra , um dos alunos deveria contornar a forma projectada. O outro aluno iria completar a simetria de uma metade de um motivo floral que, extraído de um azulejo do século XIX/Estilo Arte Nova, da colecção de azulejos do Museu Frederico de Freitas, foi reproduzido numa ficha elaborada pelas educadoras da DSPC/DRAC.
Explicou-se ainda que, a linha seria, neste caso, o elemento da linguagem visual com maior preponderância.

A actividade decorreu com grande envolvimento dos alunos uma vez que foram envolvidos de forma activa na exploração das obras daquela sala.
Esta actividade, no entanto, não teve um fim em si mesma. Os dados apreendidos nesta experiência prepararam o terreno para o prosseguimento da última actividade no museu e da reflexão futura a ser feita com o grupo, como teremos oportunidade de verificar mais adiante.


Figura 18 - Vista geral da sala do Camarim da Sè, com os alunos a realizar a actividade prática.


Figura 19 - Em primeiro plano, pode-se observar o movimento de um aluno que regista no papel a sombra da íris .

Figura 20 - Desenho do aluno Luís. 
Como se pode observar, o desenho regista a sombra projectada da íris. Note-se que o aluno desenhou o contorno da sombra recorrendo, livremente, à utilização de várias cores.  
Figura 21 - Uma das alunas do grupo desenhando a  silhueta do lírio projectada na folha de papel.
Figura 22 - Desenho da aluna Vera Gonçalves onde se nota o desenho de contorno da sombra do lírio reproduzido na imagem anterior (Figura 21)

2.3 - 2ª Andar do Museu (Sala 12)


Figura 23 - Atribuído a Jan Provoost - Escola flamenga. A Virgem da  Anunciação e o Arcanjo São Gabriel (Reverso). Pintura a óleo s/madeira de carvalho. 274x 88cm. Museu de Arte Sacra do Funchal, Portugal. 


Depois dos alunos ajudarem a arrumar a sala anterior, colocando as jarras dentro de uma caixa, o grupo foi levado em direcção à torre do museu.
Pelo caminho, fez-se uma paragem na sala 12 do segundo andar, em frente a dois painéis de pintura flamenga.
Durante os cerca de dez minutos que dedicámos a esta obra, foram lançadas as seguintes questões: das plantas que foram desenhadas na sala 3, quais são as que se encontram representadas nos painéis?; Qual será a explicação para a representação daquelas flores na pintura em análise?; Qual a diferença entre a representação das plantas na pintura flamenga e as representações que foram feitas pelos alunos no chão da sala do Camarim da Sé?

Os alunos identificaram de imediato a representação das flores na jarra do parapeito da janela, referindo ainda que, desta vez, a única planta que não aparece representada é a folha de acanto.
Quanto à função das flores naquela pintura, os alunos acharam que é apenas para "decorar"o cenário.
É neste momento que, aproveitando os comentários lançados pelo grupo, explicou-se que aquela pintura, que veio da Flandres no século XVI devido às trocas comerciais entre a Madeira e o Norte da Europa na altura do Alto Renascimento, representa o tema religioso da Anunciação do arcanjo Gabriel a Maria, quando ela fica a saber que é escolhida por Deus para dar à luz o seu filho divino.
Por essa razão, as flores surgem com uma grande simbologia no contexto da pintura religiosa cristã.
Os lírios brancos desta pintura (Lilium longiflorum), que as pessoas costumam chamar de açucenas, representam simbolicamente a ideia de pureza da Virgem Maria. Complementou-se esta informação perguntando a quem do grupo, sendo cristão, se lembra de ter levado, por indicação dos pais ou avós, uma acuçena branca na cerimónia da primeira comunhão?

Depois de alguns alunos terem afirmado passar por esse ritual, refere-se que algumas destas tradições ainda continuam vivas no presente, exactamente como na simbologia da flor que aparece naquela pintura do Alto Renascimento.
No que diz respeito à íris azul (Iris germanica) presente na pintura, foi referido que esta surge com a conotação de dor e prenúncio do luto que Maria irá sentir quando o filho, Jesus, for crucificado.
Por essa razão é que aquele azul, por vezes a pender para o roxo, está também associado à dor e ao luto.

Relativamente à pergunta sobre as diferenças na representação visual das flores entre a pintura flamenga e o exercício de desenho realizado no 1º andar,  os alunos referiram que as flores da pintura são mais parecidas com o real ao passe que os desenhos que fizeram são muito simplificados e apenas utilizam a linha.
De facto, rebatendo para os alunos a informação de que a constatação por eles realizada estava correcta, foi dito que ambos os processos são inteiramente válidos: o do naturalismo e a simplificação, e como tal, a arte, ao longo dos tempos, vai mostrar muitíssimas formas diferenciadas de se representar uma mesma realidade.
Neste seguimento, o educador do MASF acrescentou que a pintura flamenga, a nível geral, é muito realista, verosímil, parecida com o real, quando representa as formas, as texturas e as cores. Tais conquistas se devem ao facto da técnica da pintura a óleo permitir a obtenção de uma vasta gama de efeitos de tratamento das superfícies, que nos dão a ilusão de uma representação quase fotográfica.

As plantas e flores, na pintura flamenga, são tão bem representadas que parecem fazer parte de manuais de ilustração científica. Desta forma, as íris e os lírios representados nesta pintura (Iris germanica e Lilium longiflorum, respectivamente) embora sejam do mesmo género, são diferentes da espécie de lírio e íris que os alunos desenharam no primeiro andar (Lilium auratum e iris ?)


Figura 24 - Pormenor da pintura, vendo-se parte das vestes da virgem, junto ao parapeito da janela que apresenta uma jarra com um lírio branco e uma íris azul.


Figura 25 - Pormenor da jarra, observando-se a representação da íris.

2.4 - A Torre Avista Navios

Figura 26 - A Torre Avista Navios do Museu de Arte Sacra do Funchal, vendo-se toda a parte voltada a sul coberta com um painel de azulejaria do século XVIII, com o tema das virtudes teologais - Fé, Esperança e Caridade.


Figura 27 - Pormenor do painel de azulejaria, representado a Caridade. 



Para finalizar a visita de estudo ao MASF e proceder à recolha de material que os alunos levarão para a escola, é realizada uma última actividade prática em contacto directo com uma obra no último andar do Museu, a Torre Avista Navios (Figura 28).
Os alunos subiram frenéticos até à varanda e espantaram-se com a vista sobre a baía do Funchal.
Depois de acalmarem, pediu-se que se sentassem nos assentos. O educador do MASF explicou em que consistia a chamada Torre Avista Navios. Assim, e apontando para outras torres semelhantes existentes no anfiteatro observado, explicou-se que as Torres Avista Navios foram características dos edifícios urbanos mais nobres, da arquitectura tradicional madeirense, construídos no século XVII.
Inicialmente tinham a função de auxiliar os mercadores numa altura em que não existia telegrafia e era necessário seguir as entradas de navegações no porto da cidade para mais depressa chegarem até eles para vender ou comprar produtos. No caso da torre do Antigo paço Episcopal, actual Museu, a torre elevada possibilitava, sobretudo, a contemplação da paisagem pelos Bispos que por lá passaram.
Relativamente à cobertura das paredes voltadas a sul, refere-se que o painel de azulejos foi realizado no século XVIII, representa um tema religioso - Fé, Esperança e Caridade - e foi pensado para ser integrado no próprio edifício desde a sua construção em 1750..
Uma vez que a partir da varanda é possível observar outros monumentos de referência no património regional, chamou-se a atenção dos alunos  para que observassem os primeiros azulejos do século XVI que chegaram à ilha da madeira e se encontram a revestir a torre da Sé Catedral do Funchal.
Depois, apontou-se a existência de um outro tipo de azulejos que se chamam de "figura avulsa", que revestem a parte inferior dos assentos da varanda onde o grupo se encontrava.

Depois das explicações foi entregue a cada um dos alunos uma folha de papel vegetal com um quadrado de 20x20cm.
Pediu-se que cada aluno sobrepusesse a sua folha sobre o painel de azulejos e contornasse, a seu critério e escolha, um pormenor de um elemento vegetal - folhas de acanto, flores dos festões entre outros, presente no painel.
Quase todos os alunos seleccionaram pormenores do painel de azulejos da parede voltada a sul (Figuras 28, 29 e 30). Apenas um aluno seleccionou um elementos dos azulejos de figura avulsa. (Figura 31).


Figura 28 - Vista geral da varanda da torre onde se pode ver o grupo a desenhar sobre o painel de azulejos.  


Figura 29 - Pormenor do painel vendo-se, ao fundo, duas alunos a desenhar sobre os azulejos.


Figura 30 - Um elemento formal seleccionado por uma aluna. Pode-se ver a folha de papel vegetal com o quadrado desenhado, sobreposto ao pormenor do azulejo original.

Figura 31 - Um aluno a tirar um pormenor dos azulejos de figura avulsa.

Depois de terem realizado a actividade, os desenhos foram recolhidos e levados pelas professoras. A actividade teve continuação no contexto da escola como veremos nos próximos posts.

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